19 de julho de 2010

Jornalistas debatem estratégias de divulgação dos censos nacionais

Fonte: Blog Afrocensos
“O censo é um momento de repensar e rediscutir. É momento de a gente mapear e rediscutir a maioria negra. Quando se fala em censo, se pensa em retrato da realidade. Teremos a possibilidade histórica de ir além do diagnóstico”, disse Rosane Borges, jornalista e secretária-geral da ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores Negros), no painel Raça e Etnia nos Censos do Brasil, Pesquisas e Indicadores da População Negra do Encontro Latino-americano de Comunicação, Afrodescendentes e Censos de 2010, ocorrido em 18 de setembro, em Porto Alegre (RS).

Em analogia às investidas dos exércitos do Império contra os quilombos, Rosane lembrou a ação de um exército eletrônico constituído na forma e na articulação de discursos contrários às políticas de ações afirmativas e ao combato ao racismo. “A imprensa e a mídia negra, como o jornal Ìrohìn e Afropress, adotaram um outro tipo de noticiabilidade em que o princípio republicano do jornalismo é questionado por não incluir os afro-brasileiros. A mídia negra se posiciona e vai contra os tradicionais princípios do jornalismo”, refletiu Rosane Borges.

No painel Afrodescendentes e Rodada dos Censos de 2010 nas Américas, Esaud Noel, jornalista colombiano e editor da revista Ébano Latinoamérica, comentou o engajamento da imprensa e dos jornalistas afrodescendentes no censo de 2005. “Apoiamos o trabalho do censo de 2005 para motivar as pessoas a responderem o seu pertencimento étnico e racial. Mesmo com todo um trabalho de mobilização conseguimos somente 11% dos 25% que acreditamos ser na Colômbia”, declarou Noel, ex-correspondente do El País na Colômbia.

“Sabemos que dos 1.102 municípios colombianos, 287 tem presença negra expressiva com pelo menos 25% da população. Queremos a interdependência, estamos interrelacionados. Queremos nos fazer fortes juntos com vocês”, completou Noel. Com larga experiência como professor de jornalismo e presidente da Associação de Jornalistas Afro-colombianos, Noel considera fundamental a conquista de espaço e visibilidade dos afrodescendentes na grande imprensa e a criação de canais próprios de comunicação. “Temos compromisso com uma comunidade e uma cultura”, ressaltou.

Articulação regional
Apresentando os princípios e as estratégias de atuação do Grupo de Trabalho Afrodescendente para os Censos de 2010, Sonia Viveros enfatizou a necessidade de uma mobilização intensa dos afrodescendentes das Américas para a coleta de dados por raça e etnia, para cumprimento de uma das deliberações do Plano de Ação de Durban.

“No Equador, por exemplo, a estatística oficial aponta os afrodescendentes como 4% da população. Entretanto, temos indicativos de que sejamos 10% do país”, salientou Viveros, integrante da Rede de Mulheres Afro-latinoamericanas e Afro-caribenhas e do Grupo de Afrodescendentes para os Censos de 2010. “Precisamos de outras mãos, envolver jornalistas e comunicadores para nos ajudarem a difundir a rodada dos censos e a afirmação da identidade negra”, complementou a ativista equatoriana.

Papel dos jornalistas
Na moderação da mesa, Cristian Guevara, jornalista colombiano radicado na Espanha, abordou o papel dos jornalistas no enfrentamento do racismo. “Quando se está nos meios de comunicação, se tem as condições de retirar os filtros. Nós, com nosso talento, temos de reivindicar esse espaço e virar essa história seja nos grandes veículos de comunicação ou nos espaços alternativos”, apontou Guevara.

Para Vanda Menezes, feminista e integrante do grupo de mulheres negras mobilizado para a implementação do capítulo 9 – Enfrentamento ao Racismo, Sexismo e Lesbofobia do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres -, o debate do censo 2010 deve ser alavancado por diferentes estratégias, como audiências públicas, envolvimento de jovens e mulheres negras.
“O fato de uma pessoa ser negra ou branca determina a sua morte. Como perita criminal, tenho visto quase que diariamente jovens, na grande maioria negros, serem mortos por 7 a 10 tiros. Há necessidade de que todas e todos compreendam que o censo é oportunidade de vida ou de morte”, declarou Vanda Menezes.

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